Murphy é peruano

Acreditem nos sinais. Principalmente quando eles começam a ser dados lá no começo do dia, às vezes antes mesmo, no final do anterior. Têm vezes que desde o início tu sabe que o dia vai ser um parto. Quando o aquecimento pra ele começa com stress e ele propriamente também, então, batata. Aí tu já fica de cara e passa o dia naquele marasmo, ainda meio irritado. Mas tem ao menos a perspectiva de voltar pra casa e era isso. Mas aí Murphy vem e te esfrega na cara que ele é onipresente. Aì tu vai e pega um T7 lá pelas 16h, um horário bom, geralmente não tem atrolho. E não tinha. Pelo menos depois da roleta. Porque antes parecia que o ônibus era um ponto de encontro jurássico. Mais ou menos 25 velhinhas onde cabia com boa vontade 10 delas. Elas e suas bolsas. Elas e seus sorrisos, mas que não se mexem um centímetro para tu passar. Só sorriem. De tudo.
Beleza, muita força de vontade, jogo de cintura e finalmente a roleta fica para trás. É quando tu se senta calmamente do lado da janela e abre o livro. É quando o ônibus pára e sobem dois músicos peruanos. É quando uma das simpáticas e estáticas velhinhas de 114 anos pede para eles cantarem. E eles cantam uma. Elas dançam só com os bracinhos e comentam entre elas como eles são bons e divertidos. E eles cantam outra daquelas de sempre que quando tu desce do bus, ainda tá com a melodia na cabeça. Nada contra o Peru, quando eu era pequeno até achava lhama um bicho engraçadinho. Mas ontem? Precisava de música típica peruana num encontro da 4ª idade no ônibus? Murphy sorri. Murphy gargalha. Resolvi rir.